As competências dos adultos portugueses estão abaixo da média da OCDE
dezembro de 2024
Portugal participou, pela primeira vez, no “Inquérito às Competências dos Adultos”, um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que oferece uma perspetiva sobre a proficiência dos adultos em três dimensões de competências: literacia, numeracia e resolução de problemas. Em 2022-23, o inquérito avaliou os adultos com idades compreendidas entre os 16 e os 65 anos, em 31 países distintos, numa escala de desempenho entre 0 e 500 pontos ou por níveis: abaixo do nível 1 (0-175 pontos), nível 1 (176-225 pontos), nível 2 (226-275 pontos), nível 3 (276-325 pontos), nível 4 (326-375 pontos) e nível 5 (376-500 pontos).
As competências dos adultos portugueses estão abaixo da média da OCDE
Para qualquer uma das dimensões de competências analisadas no inquérito, o desempenho dos adultos portugueses ficou abaixo da média da OCDE. De facto, dos 31 países analisados, Portugal ficou em penúltimo lugar – a seguir ao Chile – em literacia e numeracia. Na resolução adaptativa de problemas, Portugal só ficou à frente do Chile, Polónia, Lituânia e Itália.
O desempenho médio dos adultos portugueses a literacia (235 pontos) e numeracia (238 pontos) ficou cerca de 25 pontos abaixo da média da OCDE e, no caso da resolução adaptativa de problemas (233 pontos), ficou aproximadamente 17 pontos abaixo da média dos 31 países analisados.
Comparando com os países com melhor desempenho – Finlândia, Japão, Suécia e Noruega – as diferenças foram ainda mais acentuadas, sendo superior a 46 pontos a literacia e numeracia e superior a 37 pontos na resolução adaptativa de problemas.
30% dos portugueses tiveram um desempenho no nível 1 ou abaixo
A literacia, 42% dos adultos obtiveram pontuação no nível 1 ou abaixo (média da OCDE: 26%). De acordo com o estudo, os indivíduos que se encontram abaixo do nível 1 conseguem, no máximo, compreender frases curtas e simples. No outro extremo da escala, apenas 4% dos adultos portugueses apresentaram um desempenho elevado, ou seja, obtiveram resultados no nível 4 ou 5 a literacia (média da OCDE: 12%).
Já no caso da numeracia, 40% dos adultos tiveram um desempenho no nível 1 ou abaixo (média da OCDE: 25%). No nível 1, as pessoas adultas são capazes de fazer cálculos básicos com números inteiros ou dinheiro, compreender o significado das casas decimais e encontrar trechos de informação em tabelas ou gráficos, mas podem ter dificuldades em tarefas que exijam várias etapas. No que toca aos níveis de melhor desempenho (nível 4 ou 5), apenas 7% dos adultos portugueses os atingiram, um valor que continua a ser inferior à média da OCDE (14%).
Por último, na resolução de problemas, 42% dos adultos obtiveram pontuação no nível 1 ou abaixo (média da OCDE: 29%). Neste nível, os adultos conseguem resolver problemas simples com poucas variáveis, com pouca informação acessória e que não se altera à medida que se avança para a solução, e têm dificuldade em resolver problemas com várias etapas ou que exijam a monitorização de múltiplas variáveis. Os adultos abaixo do nível 1 compreendem, no máximo, problemas muito simples, normalmente resolvidos numa única etapa. Os adultos portugueses com melhor desempenho – nível 4 ou 5 – foram cerca de 2%, mais uma vez, um valor inferior à média da OCDE (5%).
Considerando os três domínios, 30% dos adultos em Portugal obtiveram pontuações nos três níveis mais baixos da escala de proficiência, uma percentagem acima da média da OCDE (18%).
As mulheres, os menos escolarizados e os mais velhos tiveram pior desempenho
A proficiência dos adultos portugueses a nível das competências não foi uniforme entre diferentes grupos etários, géneros ou níveis de escolaridade. Não obstante, para qualquer um dos grupos com diferentes caraterísticas demográficas, ou de qualificações, o desempenho dos adultos portugueses foi sempre pior ao grupo homólogo da média dos países da OCDE.
No que ao género diz respeito, as mulheres tiveram um desempenho inferior ao dos homens nos três domínios. Esta diferença foi mais acentuada em numeracia e resolução adaptativa de problemas, com os homens a terem um desempenho superior em 10 e 7 pontos, respetivamente. Contrariamente à média dos países da OCDE, onde as mulheres tiveram uma proficiência em literacia superior aos homens, em Portugal verificou-se o oposto, embora a diferença entre géneros tenha sido menos acentuada (3 pontos) do que a numeracia e a resolução adaptativa. Comparando com, por exemplo, a Finlândia, país com, em média dos três domínios, a melhor proficiência em ambos os géneros, o desempenho médio dos homens e mulheres foi 51 e 56 pontos superiores aos grupos homólogos portugueses, respetivamente.
Os adultos portugueses mais jovens, na faixa etária dos 16 aos 24 anos, são os que apresentam níveis de competências mais elevados, em comparação com as restantes faixas etárias, em qualquer um dos domínios. Contrariamente à média dos países da OCDE e aos países com melhor proficiência, tais como a Finlândia, o Japão e a Suécia, onde só se verifica uma queda do desempenho a partir dos 35 anos, em Portugal, essa queda ocorre mais cedo, logo a partir dos 25 anos: enquanto a diferença média nos três domínios entre a média da OCDE e Portugal foi de 12 pontos na faixa etária dos 16 aos 24 anos, nos grupos etários mais velhos, dos 55-65 anos, foi de 26 pontos. A este resultado não será alheio o atraso nas qualificações da população portuguesa, sobretudo entre as gerações mais velhas.
De facto, verificaram-se diferenças bastante acentuadas nos resultados de acordo com o nível de escolaridade dos adultos. O desempenho médio nos três domínios dos adultos portugueses com ensino superior foi de 269 pontos, um valor 28 pontos acima dos adultos com ensino secundário e 65 acima dos adultos com, no máximo, o ensino básico.
Apesar dos melhores resultados a nível das competências dos adultos portugueses com ensino superior face a níveis de qualificação mais baixos, comparando com os países com melhor proficiência as discrepâncias ainda são bastante acentuadas. De facto, o desempenho dos portugueses com ensino superior ficou abaixo dos finlandeses e suecos com ensino secundário, em todos os domínios de competências.
Mais de 40% dos portugueses sentem-se desajustados no local de trabalho por não trabalharem na área para o qual estudaram
Para além do desempenho das competências, este inquérito também questiona os inquiridos acerca do desajustamento de qualificações, competências e área de estudo.
Em Portugal, cerca 14% dos trabalhadores consideram ser sobrequalificados (média da OCDE: 23%), ou seja, que a sua qualificação académica está acima do nível tipicamente requerido pelo seu emprego atual. No sentido inverso, aproximadamente 14% declaram ser subqualificados (média da OCDE: 9%).
No que concerne o desajustamento de competências, cerca de 7% dos trabalhadores consideram que algumas das suas competências estão abaixo do que é exigido pelo seu emprego atual (média da OCDE: 10%), e um em cada quatro (25%) declara ter competências para além do requerido (média da OCDE: 26%).
Por fim, 41% dos portugueses sentem-se desajustados no local de trabalho por não trabalharem na área para o qual estudaram, um valor um pouco superior à média dos países da ODCE (38%).