EDUSTAT - Metade dos trabalhadores ganha menos de 980€ líquidos

Metade dos trabalhadores ganha menos de 980€ líquidos

abril de 2025

A 1 de maio celebra-se o Dia Internacional do Trabalhador. Para assinalar esta data, o EDUSTAT apresenta alguns indicadores relacionados com as condições laborais dos trabalhadores em Portugal, nomeadamente a evolução dos salários ao longo dos últimos anos, segmentando a análise de acordo com as características demográficas dos trabalhadores tal como o género ou a faixa etária e comparando a realidade portuguesa com os restantes países europeus.


Salário médio líquido subiu para os 1.142€ em 2024

De acordo com os dados do Inquérito ao Emprego, do Instituto Nacional de Estatística (INE), o salário médio líquido dos trabalhadores1 fixou-se nos 1.142€ em 2024, o valor mais elevado dos últimos 13 anos. Face ao ano anterior, de 2023 (1.067€), o crescimento, ajustado à inflação, foi de 7%, a maior variação anual da última década. Do mesmo modo, o salário médio foi, pela primeira vez, superior ao registado em 2021 (1.132€), o montante salarial mais elevado antes do início da mais recente crise inflacionista.

Nos últimos 13 anos, entre 2011 e 2024, o rendimento médio líquido real2 aumentou 13,1%, o que se traduziu num aumento de 132€, ou seja, um crescimento médio de 10€ ao ano neste período.

Analisando por género, para todos os anos do período 2011-2024, o salário médio, após impostos e contribuições, foi sempre superior nos homens face às mulheres. Em 2024, o salário médio líquido dos homens foi de 1.249€, um valor 206€ acima do das mulheres (1.043€), o que representou uma disparidade salarial de 19,7%, a favor dos homens.


Metade dos trabalhadores ganham menos de 980€ líquidos

Dada a distribuição de salários dos trabalhadores – onde uma proporção bastante significativa dos trabalhadores aufere rendimentos próximos do salário mínimo (mais de 20%) e e uma pequena parte dos trabalhadores aufere rendimentos muito elevados – a análise dos rendimentos medianos 3 pode ser mais representativa da realidade da maioria da população empregada. Em 2024, metade dos trabalhadores portugueses auferiram um rendimento líquido inferior a 980€. Não obstante, este foi também o salário mediano líquido mais elevado desde 2011.

Face a 2023 (922€), o salário mediano líquido, ajustado para a inflação, aumentou 6,3% e comparando com o início da série analisada, em 2011 (784€), o crescimento foi de 25%. A este forte crescimento não será alheio o aumento do salário mínimo nacional de, em termos nominais, 485€ em 2011 para 820€ em 2024.

Tal como na análise da distribuição média, o salário mediano líquido dos homens foi, entre 2011 e 2024, sempre superior ao das mulheres. Não obstante, as diferenças foram menos acentuadas já que, em 2024, a disparidade salarial mediana foi de 11,1%, a favor dos homens.



Trabalhadores mais jovens são os mais mal remunerados

A análise da distribuição dos rendimentos médio por faixa etária permite verificar que existem discrepâncias acentuadas a nível das remunerações entre trabalhadores mais jovens e mais velhos. Em 2024, os trabalhadores dos 16-24 anos auferiram um salário médio líquido de 840€ e os da faixa etária dos 25-34 anos de 1.085€, ou seja, 26,4% e 5% abaixo da média nacional (1.142€), respetivamente. No sentido oposto, o salário médio líquido de todos os grupos etários com mais de 35 anos foi superior à média nacional, designadamente na faixa etária dos 45-54 anos (1.183€: 3,6% acima) e dos 45-54 anos (1.199€: 5% acima).

Apesar dos mais jovens continuarem a ser os mais mal remunerados, o crescimento salarial nos últimos anos foi mais acentuado entre os trabalhadores com menos de 35 anos. Entre 2011 e 2024, o salário médio líquido real dos jovens dos 16-24 anos e 25-34 anos aumentou 23,1% e 16,4%, respetivamente. Uma variação superior à média nacional (13,1%) e superior aos restantes grupos etários, tais como o dos 35-44 anos (12,9%), 45-54 anos (9,6%) e 55-64 anos (0,5%).

No caso do salário mediano líquido, as diferenças entre faixas etárias foram menos acentuadas. Ainda assim, os mais jovens continuam a auferir os rendimentos mais baixos. Em 2024, metade dos trabalhadores com menos de 25 anos tinham um rendimento inferior ou igual a 820€, o equivalente ao salário mínimo, e metade dos trabalhadores com 25 a 34 anos tinham um salário líquido inferior ou igual a 980€. No caso dos trabalhadores dos 35 aos 54 anos, o salário mediano líquido situou-se nos 1.000€.



Salário dos trabalhadores com ensino superior foi o que menos cresceu na última década

O salário médio líquido dos trabalhadores com ensino superior foi, em 2024, de 1.515€, tendo ficado 374€ acima da média nacional e acima do salário médio dos trabalhadores com o ensino básico (864€) e com o ensino secundário (1.003€).

Contudo, o ganho salarial dos trabalhadores com mais qualificações face aos menos qualificados tem vindo a decrescer ao longo dos últimos anos. Em 2011, os trabalhadores com ensino superior tinham um salário médio líquido 71% acima dos trabalhadores com ensino secundário. Em 2024, esta diferença baixou para os 51%.

De facto, enquanto o salário médio líquido, ajustado à inflação, dos trabalhadores com ensino básico e secundário estava, em 2024, acima – 10,7% e 2,3%, respetivamente – dos valores registados em 2011, o salário dos trabalhadores com ensino superior ainda não recuperou para os níveis anteriores à última crise financeira, estando, em 2024, 9,8% abaixo do salário médio líquido de 2011.



Salário médio em Portugal foi apenas 61% do salário médio europeu

No contexto europeu, os mais recentes do Eurostat, indicam que o salário médio anual em Portugal foi, em 2023 (ano para o qual há dados comparáveis), de 22.933€. Ou seja, o 9º salário mais baixo dos países da UE-27 e inferior a países como Espanha (32.587€), Itália (32.749€), França (42.662€) e Alemanha (50.998€).

Este valor representou apenas 60,6% do salário médio a nível europeu (37.863€). Mesmo assim, Portugal aproximou-se, nos últimos anos, da média europeia já que, em 2011, o salário médio em Portugal representava pouco mais de metade (59,3%) do salário médio da UE-27.

Apesar da aproximação à média europeia entre 2011 e 2023, Portugal foi ultrapassado por vários países que tiveram um maior crescimento salarial neste período, designadamente a Lituânia, Estónia e a Chéquia. No sentido inverso, Portugal apenas ultrapassou a Grécia em matéria de salários. Como consequência, Portugal baixou do 16º para o 18º lugar entre os países da UE-27 com salários médios mais elevados.



Referências:

1 Salário médio, após impostos e contribuições dos trabalhadores por conta de outrem.
2 Ajustado à taxa de inflação.
3 Valor na qual metade da população tem um rendimento abaixo e outra metade tem um rendimento acima.